sábado, 27 de abril de 2013

Portadora das palavras.



Sou uma poetisa, uma escritora, uma artista das palavras. Nasci para dar vida à desordem das mentes, para tocar as almas e arrepiar cada centímetro da pele de quem ler e for tocado. Sou feita de sentimentos, sensações e pensamentos, naturalmente intensa e à flor da pele.
A inspiração é algo que me toca, morna e leve, como um cheiro natural e familiar, mas ao mesmo tempo estranho, que sempre causa um rebuliço no estômago e frio na espinha. Sinto tudo ao redor com mais intensidade, aos extremos, como se as coisas – de algum modo – precisassem ser expressas e gritadas por mim. Um grito silencioso que fica preso às páginas e intocado, pronto para berrar àquele que tiver pronto para recebê-lo.
Tudo que toco vira poesia, tudo o que me toca vira motivo para que eu escreva, para que eu toque as palavras e de repente as transforme em um texto bem escrito e tocante. É um ciclo. Perguntaram-me, inúmeras vezes, de onde tiro forças pra escrever e eu ainda me pego na dúvida em relação a isso. Não sou eu que escolho quando escrever, são as palavras que escolhem quando sair de mim.
Sinto-me um novo personagem a cada dia, a cada hora, a cada ambiente. Todos dormem em mim, silenciosamente, à espera de um momento para se revelar. Anjos, demônios, princesas, fadas, guerreiros, aquela menina tediosa da sexta série, aquela convencida da faculdade, aquela mãe coruja, aquela inocente, aquele bebê e aquela mulher cruel; aquele homem ignorante, aquele filósofo, aquela assassino, aquele observador, aquele teimoso e safado, aquele intocado: todos dentro de mim trocando de lugar, trocando de forma, trocando de olhar e jeitos... todos partes de mim mesma. Mulher de fases não, mulher de faces.
Perceba, leitor, o quanto é importante para mim brincar com seus sentimentos e sentidos: sinta uma mão afagar seu rosto e logo depois um tapa, sinta um cheiro doce que logo se torna intoxicante, sinta lábios doces e em seguida uma mordida forte, olhe um sorriso cruel e em seguida perceba as lágrimas caindo – salgadas e quentes – sob seu colo e serem absorvidas pelo tecido de sua vestimenta. Tudo isso sou eu e você, tudo isso é humano, é divino, é um sopro de vida e outro de morte.
Sou o mundo, sou o belo, sou o feio, sou o repugnante e o atraente, eu sou aquele suspiro e aquele arquejo de dor: sou a portadora das palavras, e você é a minha vítima. 

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