A garota poderia ter medo, quem sabe, de tudo o que estava
por vir. Muitas têm. Ela sequer estremeceu. Ficou ansiosa, talvez nervosa, mas
não com medo. Não, não era coragem, mas era excesso de medo – e as vezes o
excesso faz isso com as pessoas: ele as deixa entorpecida. Nem sabia que as
novidades, os acontecimentos, poderiam ser tão velozes! Como a vida dela mudou
tão rápido? Antes o horizonte era tão próximo, o céu tão baixo, as perspectivas
eram leves e quase inexistentes. E agora... ela olha ao redor e mal acredita na
vida que está entranhada nela, que a possuiu, que a envolveu e engoliu.
Nenhum plano seguiu seu curso, todos falharam mas outros
surgiram e de repente viraram a vida dela. Agora acorda cedo, carrega livros
gigantes e pesados nos braços, mexe em cadáveres, passa o dia perambulando
entre salas de aula, laboratórios e bibliotecas. A exaustão é morna e pesada,
está sempre presente no final de cada dia, no entanto ela aprendeu a gostar.
Aprendeu a suportar as dores de suas limitações, os olhos ardendo de sono e até
os enjoos devoradores, colocou tudo no bolso e escolheu viver. Viver
plenamente, abraçar o que foi dado, respirar esse ar e sorrir, sorrir porque
afinal encontrou o seu lugar, e o seu lugar é a parte viva e ativa da vida, a
parte que se move, que vai pra frente, que tem um curso contínuo e incansável.
Há novas situações surgindo da antiga-nova-situação e ela as
peita e encara nos olhos. O futuro é extenso, brilhante e alcançável. A
perspectiva agora pesa e é grande, sólida, mas não importa, ela não tem dúvidas
de que pode chegar lá. Aliás, o “chegar lá” que tantos disseram entre frases de
motivação e acalentos, também mudou. Não mudou tanto, mas a vertente em si
mudou de alma e de lugar. Descobriu que o “certo” de antes não a completaria
como o antigo “errado” e agora “certo” o faz.
Por mais que clichê, é preciso dizer esta verdade: a vida
nos surpreende. Algumas vezes de uma maneira ruim, outras de uma maneira boa,
mas o que a garota aprendeu e repete isso sempre que pensa no assunto é que
encarar as coisas boas e ruins nos faz criar mil e umas possibilidades de
caminhos e chances em nosso destino. Permita-se. Encare. Seja forte, não tenha
medo (e se tiver, siga com medo mesmo), as situações tem o costume de terem
duas facetas, não as olhe como se fosse só boas ou só ruins, são sempre os dois
em equilíbrio. E o equilíbrio, leitor, você sabe: é o que nos mantém de pé.
Literalmente e figurativamente.