O que você está fazendo aqui? O que te trouxe aqui – bem
aqui, mesmo – e por que você ainda permanece? Ora, eu não sei o motivo de você
permanecer, mas eu sei quem te trouxe. Fui eu. Eu, ser bobo, a Vida. É
estranho, não é? E sim, você está falando com si próprio, e com todos no mundo,
ao mesmo tempo. Uns me chamam de destino, outros me chamam de carma, de tempo,
mas na verdade eu sou tudo isso e sou nada disso. Eu sou você. Eu sou ele,
aquele, vocês, todos. Eu sou o que pulsa dentro de todos e de cada um. E não
tenho nome, só pseudônimos, você escolha qual prefere.
Na verdade, não interessa como me chame, eu domino a maioria
de vocês. Claro, vocês amam me culpar de tudo o que fazem, “a vida me trouxe a
isso”, “foi o destino”, Ah, quanta besteira! Eu não sou responsável pelas suas
burradas. Eu só levo você às consequências, e isso pode ser à qualquer parte,
mas mais precisamente à duas posições: ao sucesso ou ao nada.
Vocês, seres humanos, tão racionais, basicamente se dividem
entre: os que se movem e os que eu movo. A maldita decisão sempre foi de vocês,
sempre o direito de escolher o que fazer e pra onde ir, eu só encaminho. Nada
pode ficar parado, sem movimento algum, e se você não der um passo, eu te movo,
nem que seja com empurrões, e você para onde eu quiser que pare, e se não se
movimentar nem para evitar, irá se deixar levar. E quer saber onde eu te levo?
Ao nada. Nunca darei sucesso a quem não se move nem para evitar meus empurrões.
Ah, pequena criatura, acha que não é um dos que eu domino?
Acha que se domina? Reflita de novo. Nesse século, poucos são os que tomam as rédeas
que eu ergo diante dos seus olhos e controla o que eu disponho, a maioria só se
deixa ser marionete. Quão cansativo para mim é empurrar milhões de vocês todos
os dias! Como sinto falta de Eistein, de Nobel, de Aristóteles, isso só para
citar os poucos que realmente fizeram algo pela humanidade, diferente da
maioria de vocês.
Eles se moveram, me deram gosto em deixar as rédeas correrem
soltas enquanto eles guiavam, foi um deleite promovê-los ao sucesso. Hoje tudo
o que a humanidade é, deve um pouco a eles. E olhem como vocês a usam mal...
francamente, estou perdendo o sentido!
Não me retiro de você, talvez, por pensar que ainda pode se
mover ao invés de me deixar trabalhar tanto. E minha irmã, a Morte, ela está
ocupada terminando o meu trabalho para que eu a preocupe com essas burocracias,
que vocês chamam de epifania ou algo nesse sentido. Ela tem tido muito
trabalho, talvez mais até que eu.
Mas agora, pode seguir, sendo empurrado por mim ou tomando
as minhas rédeas. Eu não sou fácil, e muitas vezes sou amarga, mas sei de minha
beleza, e ela é grande o suficiente para você não cortas os fios que te mantém
ligado a mim. Pode não pegar as rédeas, pode ser empurrado, mas ainda está
aqui, não está? Então, humano, tome logo as malditas rédeas e faça por si. O “nada”
já está bem lotado.
Te deixo agora com essa reflexão, preciso manter muitos
corações batendo, há serviço para ser feito. Espero que eu seja longa pra você,
e que você me faça linda.
Assinado, sua Vida.