Ela encarava a figura no espelho. Sua bochecha falsamente rosada, o blush tirava aquela aparência pálida e doentia. Encarou seus olhos que há muito não encarava: Estavam ali, castanhos, chocolates, melancólicos e sem vida. Piscou suavemente, procurando ver beleza neles.
A beleza estava ali, no olhar encarando o espelho. Tão indecifráveis que você não saberia o que a garota pensava, no que ela guardava dentro de si, porém, se prestasse atenção, estava ali, uma gota de tristeza. Num impulso, ela tocou o espelho de leve, de repente saudosa. Passou as mãos no próprio cabelo, as ondas e cachos acariciando sua pele. Ela sentia saudade de olhar para ela mesma e pensar o quanto não podia ser melhor. No entanto, podia.
Com um suspiro pesado, tocou os lábios carnudos e levemente rosados, saudosa da época que conseguia falar o que sentia sem derramar uma só lágrima. Os dedos escorreram de volta ao espelho. Ela fechou os olhos, se espreguiçou, encarou mais uma vez seus olhos castanhos: Profundos, e por um momento, sinceros.
Ela pôde ver tudo ali, desde os sentimentos mais desconhecidos, até por ela mesma, aos que ela tinha total consciência, e de repente, um vestígio de alívio lhe tomou.
Ela ainda era ela, e no final, ninguém a conhecia mais do que ela mesma, e isso a tranquilizou. Seu pior medo era não se reconhecer no espelho, não se sentir ela mesma, mas ela ainda era ela, não importa o quanto sofra, o quanto melancólica ou triste esteja, ela nunca vai mudar. Não pra ela, não por ninguém.